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Privatização - Mário Covas era contra?
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Rede de corrupção dominava bancos
Autor(es): PAULO SILVA PINTO Correio Braziliense - 17/11/2013
Instituições estaduais funcionavam como emissores paralelos de moeda. Minavam a política de controle da inflação e desviavam recursos da população para financiar campanhas eleitorais

A data é 20 de dezembro de 2000, dia do Zumbi dos Palmares. O governo comemora, mas por outra razão. Em meio ao barulho, na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, toca o celular do presidente do Banco Central (BC). Do outro lado, fala o ministro da Fazenda, Pedro Malan, que está em Brasília. Quer saber se é aquilo mesmo ou se ouviu errado. O Banespa, banco estadual paulista que estava sob intervenção do BC havia seis anos, acaba de ser arrematado pelo Santander por R$ 7,05 bilhões, ágio de 281% sobre o preço mínimo. Atualizado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), são R$ 15,84 bilhões, mais que o bônus de R$ 15 bilhões a ser pago pelo Campo de Libra, o primeiro do pré-sal a ser privatizado pela presidente Dilma Rousseff.

O tamanho do ágio do Banespa encolhe, porém, se comparado ao custo do saneamento do banco para os cofres federais, que chegou a R$ 45 bilhões. O mais importante ali, porém, não era o dinheiro, e, sim, o fim da novela daquela privatização, a mais arrastada no saneamento dos banco estaduais. O processo foi essencial para a reorganização das contas públicas do país. “Os bancos estaduais eram um foco de tentação incrível para os governadores”, explica o economista Carlos Eduardo de Freitas, diretor responsável, no BC, pela venda de cinco instituições estaduais, incluindo a de São Paulo.

Descalabros
Ao longo de décadas, os bancos estaduais foram usados para financiar projetos que em nada beneficiavam à população. Muito pelo contrário. Faltavam recursos para obras essenciais, como estradas, saneamento básico, escolas e hospitais. Ronaldo Mota de Moraes, 44 anos, sabe muito bem disso. Morador de Casa Nova, município baiano encravado no Polígono da Maconha, não só foi obrigado a viver do lixão próximo à cidade, por causa da escassez de obras das quais costumava tirar o sustento, como nunca teve serviços públicos de qualidade.

O desastre de todas as instituições financeiras vinculadas a governadores foi construído porque elas operavam como se fossem os bancos centrais dos seus respectivos estados. Seus dirigentes eram aliados políticos dos mandatários dessas localidades. A motivação ao conceder empréstimos ou em comprar títulos emitidos por prefeitos e governos não era fazer um bom negócio, mas, sim, agradar ao grupo do poder. Além do desperdício, essas operações atrapalhavam a política monetária porque, na prática, injetavam dinheiro na economia, aqueciam a atividade e alimentavam a inflação.

“A exposição dos bancos estaduais ao setor público era total”, explica o ex-secretário do Tesouro Nacional Carlos Kawall, economista-chefe do Banco J. Safra. “Como tinham em seus ativos títulos de dívidas tanto de estados, quanto de municípios, essas instituições acabaram se tornando inadimplentes”, conta. Quando a situação dos credores desses bancos degringolou, a partir de meados da década de 1990, a conta teve de ser paga pelo próprio Tesouro, que não viu outra saída a não ser assumir essas dívidas.

Crise no PSBD
O caso do Banespa era, na essência, igual aos demais. Só que a escala era superlativa em tudo, no rombo, nos interesses políticos, na grita da oposição e na intensidade das batalhas judiciais. “O patrimônio público vai virar pó”, alertou Carlos Eduardo de Freitas em junho de 2000, depois de ver o leilão ser adiado em dois meses. No sábado anterior ao leilão, ele se encontrou, casualmente, em uma padaria do Lago Sul com Pedro Malan, que não lhe escondeu os receios de fracasso na venda do Banespa. Ambos sabiam, desde a véspera, algo que o mercado desconhecia: Roberto Setúbal, o presidente do Itaú, ligou para avisar que não daria lances pelo banco paulista. Grandes instituições estrangeiras, como o Citibank, já haviam desistido bem antes.

No dia do leilão, porém, assim que a sessão foi aberta, o então presidente do Santander, Gabriel Jaramillo, deixou claro o interesse na compra: correu para depositar o envelope fechado com a proposta. Os representantes do Bradesco e do Unibanco hesitaram. Ficaram pendurados no celular enquanto olhavam para a porta. No último minuto, depositaram a oferta, presumivelmente com valores mais baixos do que as que estavam na manga para o caso de o representante do Itaú aparecer.

Todo o leilão durou apenas 10 minutos. Abertos os lacres, os números dos outros bancos eram pouco superiores ao valor mínimo pedido pelo governo, de R$ 1,85 bilhão. “Para eles, a compra seria defensiva, para não reduzir a fatia de mercado. Para o Santander, foi a oportunidade de adiantar em dez anos o crescimento no Brasil”, afirma Freitas.

Um agravante no caso do Banespa era a resistência do governador de São Paulo, o tucano Mário Covas. O banco estava sob intervenção federal desde o último dia do governo de Luiz Antônio Fleury Filho, então no PMDB. Covas atribuía a Fleury e a seu antecessor e padrinho político, Orestes Quercia, a combalida situação do banco. Mas era, assim mesmo, contra a privatização, expondo o racha dentro do PSDB.   - Visite www.apdobanespa.com

APdoBanespa - 18/11/2013

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