UM SONHO
Nesta noite eu tive um sonho.
Caminhava por uma calçada e olhei por uma janela de onde vinha um alarido intenso. Em um imenso salão, uma quantidade enorme de pessoas se agitava e observando a zorra comecei a reconhecer ex-colegas do Banespa. Saula, uma delas, me reconheceu e pediu que eu entrasse, pois fazia parte daquele momento, daquela festa e daquela história.
Fui chegando e observando, muitos não conhecia, outros os reconhecia mas não os identificava e outros, sim. Leila, Luci, várias Marias, a das Graças e a Cristina entre elas, Henry Vitor espalhava suas cores luminosas pelas cortinas, Glauco pintava pelo chão suas figuras, misturadas com as de Magritte, Godoy fotografava Squirra e Squirra fotografava Godoy, Arnold comia pipocas...as cenas eram muitas, os personagens também, que se misturavam e se diluíam na pátina do tempo e da memória.
Figueira, elegante, de terno e gravata me passou o microfone.
Falei.
Aqui reunido com vocês, companheiros de uma longa jornada, me lembro ainda quando chegamos nesta casa, vindos de todos os cantos desta grande cidade e de todas as cidades de todos os cantos deste imenso Brasil.
Aqui chegamos, entrando assustados pelas imensas e imponentes portas da Praça Antônio Prado, trazendo nossas malas gastas, de papelão com cantoneiras de latão e fechaduras frouxas, enlaçadas com cordas de sisal, velhas gravatas puídas e ensebadas ou retalhos de chita, para que não escapassem nossos sonhos dentro delas amontoados.
Entrávamos afoitos pra não perder o ponto, ansiosos pra iniciar o trabalho e fazê-lo bem feito, profundamente agradecidos à casa que nos abrira as portas.
Enquanto martelávamos o teclado das Remington e das Underwood, as malas que ficavam pelos cantos jogadas, deixavam escapar lentamente uma névoa de sonhos coloridos que se misturavam, uns com cores vibrantes e faiscantes, outros em tons mais neutros e esmaecidos e aos poucos envolviam todo o ambiente como um imenso céu colorido com muito mais cores e luzes que mil arco-íris entrelaçados.
Me empolgava nessa fala quando comecei a acordar.
Meio dormindo, meio acordando, tentando me achar, apalpei à esquerda e senti o calor de Marylene que dormia, apalpei à direita e sobre o criado mudo peguei meu óculos com suas lentes craqueladas e já sem as plaquetas que se apoiam no nariz e o ajeitei como deu na cara amarfanhada, sentei-me ainda sonolento à beira do leito, me levantei cuidadoso como me exigem os joelhos já gastos e comecei a procurar pelos cantos escuros do quarto a minha antiga mala dos sonhos.
- Ela deve estar por aqui, ela tem que estar por aqui...assim murmurando, acordei Marylene.
Otoni Gali Rosa
abril de 2022. Fabiana Calhes Baccelli
Que lindo!
É impressionante como você consegue nos transportar fisicamente para dentro das suas crônicas e senti-las com a mesma intensidade sua!
Que delícia!!!??
Já falei pra você que você precisa escrever um livro com suas crônicas!! Marlene Sarmento
Que maravilha!!! fala sério!!! Deus foi muito generoso com vc na distribuição dos dons ?Comece a juntar os escritos espalhados por aí e marque a data do lançamento Leila Vairoletti
como sempre seus textos nos remetem aos tempos de nossos sonhos e de velhas malas
Mas ficaram boas lembrancas e amigos inesqueciveis em nossos corações
Obrigada amigo Otoni Benedito Pinto Jr
Você descreve seus sonhos colorindo as cenas. Nem poderia ser diferente, pois sobressai a sua alma de artista. Quando entrei no Banespa, pelas portas da Antônio Prado, que você bem descreve, apresentei-me ao Volpi no 8º andar e fui designado para Correspondentes no País. Ficava no 12º andar da Boa Vista, separado apenas por um balcão da Expedição, onde trabalhava Otoni, em 1965.
Um abraço e parabéns!
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APdoBanespa - 27/04/2022
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