Rua do Imperador, esquina com a Rua Siqueira Campos, 17h30
Publicado em 21/08/2015, às 17h36 - Por Luiz Pessoa
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Professor que vive nas ruas diz que já trabalhou no Banespa.
O Professor vive nas ruas do Recife há cerca de seis meses
- Boa noite, Professor, o senhor está aqui na Rua do Imperador há quanto tempo?
- Uns seis meses, acho, sou novato aqui.
- E o senhor está aqui na rua por algum motivo específico?
- Alcoolismo, alcoolismo.
Minha maior dificuldade é lembrar do meu passado e ver que eu tenho um currículo até, digamos, invejável.
- O que acha da vida na rua?
- Só quem ajuda aqui são as comunidades (grupos de ajuda, geralmente religiosos); me oferecem algumas oportunidades, trazem comida, um mínimo de conforto. Até dinheiro de vez em quando recebemos aqui para eventualidades. O problema é que isso termina acomodando, sabe? A gente tá aqui porque muitas dessas pessoas se entregaram à bebida, aqui mesmo. Veja meu rosto? Tá vendo isso? Essas feridas e machucados, fui eu mesmo, completamente embriagado, levando queda; chamaram até o Samu um dia, mas eu estava bem.
- E quais são as maiores dificuldades do senhor?
- É lembrar do meu passado e ver que eu tenho um currículo até, digamos, invejável. Aqui na rua existem muitas pessoas cultas, de verdade; veja meu exemplo: Eu sou formado em letras, já fui concursado no Banespa, no Bandepe, na SerproO, DataMac, enfim, dei aula por muito tempo e tenho mania de corrigir as pessoas, por isso este apelido. Já passei por um bocado de lugares importantes. Meu pai foi jogador de futebol do Sport, me incentivou a estudar para ter uma vida melhor do que a dele, veja onde estou… confesso que fiquei acomodado, bebo todos os dias, esqueço da vida e recebo ajuda de grupos comunitários. Não quero ver ninguém por muitas horas, depois volto a falar com as pessoas, fico sozinho e penso muito na vida. Minha droga é só a cachaça, não uso nada a mais.
- Com o que senhor mais gostou de trabalhar?
- Em 81, eu trabalhava com RPG2, era operador de Cobol no Bandepe, foi quando eu tive meu primeiro computador, um TD400. Eu adorava aquilo. Em 83, passei no concurso do Banespa e trabalhei implantando um sistema de contagem monetária, foi a melhor época da minha vida, eu tinha de tudo um pouco e vivia feliz, mas os tempos passam, a vida vai ficando mais dura e muitas das vezes as decepções são um baque tremendo.
O Professor, 53 anos.   - Visite www.apdobanespa.com
APdoBanespa - 23/08/2015
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