Quase no fim de minha carreira bancária (escriturário A: risos), fui trabalhar no Butantan, apelido carinhoso da Seção de Compensação de Cheques, onde só trabalhavam cobras, gente amiga, competente e perigosa.
O Butantan ficava na sobreloja, separado da cabine da telefonista por um biombo.
Costumávamos almoçar num restaurante perto do Banco, cada qual no seu horário.
Num belo dia, almoçando sozinho numa mesa, restaurante cheio, aparece-me uma loira bonita e simpática com o prato na mão, perguntando se podia sentar-se. Respondi, logicamente, que ficasse à vontade.
Ela sentou-se, agradeceu, trocamos algumas palavras, terminei meu almoço, pedi licença, saí, paguei a conta e voltei para o Banco. No dia seguinte aconteceu a mesma coisa.
Mas no 4º dia, quando cheguei ao restaurante, que estava lotado como sempre, foi ela quem de longe me acenou, oferecendo um lugar à mesa.
Ao sentar-me e agradecer, percebi que ela já estava terminando sua refeição.
Porém, conversa vai conversa vem, mais vem do que vai, acabamos terminando juntos.
Ela levantou-se apressada, dirigiu-se ao caixa, pagou a conta e ficou tomando um cafezinho, enquanto eu pagava a minha.
Saímos juntos do restaurante e se estabeleceu o seguinte diálogo entre nós:
Eu: Estou subindo até a esquina...
Ela: Eu também... – E subimos juntos.
Eu: Agora viro à esquerda, atravesso a rua...
Ela: Que coincidência... – E seguimos juntos até a porta do Banco.
Eu: Obrigado pela companhia, mas agora eu fico aqui...
Ela: Nossa! Você tem conta no BANESPA?!
Eu: Eh... Tenho uma conta aqui. E você, é correntista também?
Ela: Eu trabalho aqui, sou a telefonista...
Eu: Então, muito prazer em conhecê-la, colega! Sou o Jonalvo, do Butantan...
Ela: E eu sou a “Palmíria”! Vizinha do Butantan...
Depois da mais original das apresentações, de uma pequena sessão de espanto e contidos risos, sorrindo, subimos juntos a escadaria do Butantan, onde o gostoso suplício de venenoso sarcasmo nos aguardava para o resto da vida.
JM – 06/01/2015.
Nota: A loira é real, mas para preservar-lhe a privacidade (se é que ainda existe) usei um nome fictício.
P.S.: “Desconheço qualquer coisa que provoque mais a alegria do riso do que uma boa piada, ainda que retrate a realidade”.   - Visite www.apdobanespa.com
APdoBanespa - 06/01/2015
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