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Um homem deixa de ser jurista para ser mercenário
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Tema para reflexão
              A Cabeça de Cícero
É praticamente uma constante nos discursos filosóficos a crença de que os humanos planejam melhor seu futuro quando têm conhecimento de sua história. No Brasil, em consequência da degradação do ensino em todos os níveis, o ensino de História passou a ter um papel secundário, cedendo lugar ao discurso ideológico, mais ainda nas escolas de ensino médio. Aquele que não conhece a história política de Roma pode bem surpreender-se com o pernicioso costume de compra de votos, de ​ deputados e senadores, com recursos públicos (no caso de Roma, com dinheiro do saque dos tesouros dos países derrotados). Entretanto, quem bem conhece a história daquele tempo, muito bem sabe que os hábitos dos políticos de hoje são, em menor ou maior grau, os mesmos dos políticos daquele tempo e, quanto maior a impunidade, mais os hábitos de rapina se repetem.

Hoje é um dia especial para a História do Brasil, pelo fato de o jurista Marcio Thomaz Bastos ter deixado este mundo. O Brasil perdeu um jurista, mas a nação brasileira foi recompensada, porque foi subtraído de nosso meio um habilidoso e dedicado advogado dos corruptos. Como ministro da Justiça do governo Lula ele deixou pouco para ser lembrado e, por que não dizer, preservou fielmente a tradição das masmorras medievais em que se transformaram os presídios deste degenerado país.

Nos últimos tempos, articulava-se ele com um formidável esquadrão de juristas, na tentativa de criar armadilhas jurídicas para desqualificar o Meritíssimo Juiz Moro, responsável pelo processo de investigação em curso na PETROBRAS. É dispensável aqui detalhar os milionários honorários que esse jurista recebeu para defender os criminosos do mensalão. Não faltou esforço para que o mais nobre dos juristas do STF, o Meritíssimo Juiz Supremo Joaquim Barbosa fosse colocado na defensiva, constrangido e, por que não dizer, no horizonte da desmoralização púbica, com o único fito de reduzir-se a gravidade dos crimes daqueles bandidos petistas com vistas a inocentá-los.

A Ordem dos Advogados do Brasil em coro canta loas ao jurista morto. Nada estranho numa organização que é o exemplo lapidar do corporativismo no Brasil.
Essa organização não faz qualquer menção referente à estatura ética de Bastos que, a meu ver, merece atenta análise, a fim de que se estabeleça os limites além dos quais um homem deixa de ser jurista para ser mercenário.

Os populistas, invariavelmente, corrompem a justiça dos países, mais atuando para mudar as regras do poder e prolongar-se no governo e menos para beneficiar a nação na busca da prosperidade através do trabalho honesto. Não faltaram cabeças brilhantes na História a bajular chefes de estado populistas, vagabundos e assemelhados. Relembro que Pablo Neruda fez um poema a Stalin e que Pablo Picasso idolatrava esse monstro. Também não faltaram bajuladores e oportunistas a cercar Lula e Dilma, a exemplo do louvado arquiteto comunista Oscar Niemayer (cognominado jocosamente de Mago do Concreto Alheio e conhecido no exterior nos últimos lugares da fila dos cem melhores).

Marcio Thomaz Bastos era uma sombra ao redor dos poderosos, sempre pronto para defendê-los, em nome do exercício do Direito. Entretanto, podemos dizer que onde ele mais se destacou foi perante o povo brasileiro esclarecido, precisamente quando defendeu bandidos corruptos e ladravazes do dinheiro público. Tais homens tornam-se célebres e poderosos. A História nos mostra que a escalada de poder desses homens somente pode ser interrompida através de processos revolucionários. O regime militar de 64, justificado historicamente para defender o Brasil contra os traidores comunistas, é um exemplo. Nesses regimes, julga-se o homem por sua importância política e executa-se o mesmo por sua culpa política. Foi precisamente o caso do célebre jurista romano Cícero que, em retribuição aos serviços jurídicos em prol dos poderosos, recebeu dos senadores romanos, à época de Júlio César, nada menos que dezenove vilas. A história romana registra que o palácio dele em Roma somente era superado em luxo e dimensão pelo palácio de Mecenas.

A decadência romana nos lembra muito bem a podridão reinante na política brasileira de hoje, quando ao povo se dá a impressão de que o bem público foi a leilão. A nação romana daquele tempo clamava por um salvador, enquanto que Virgílio proclamava brilhantemente em sua obra literária a vinda do mesmo, puro, justiceiro e nobre. Pois bem, o salvador aconteceu no nome de Caio Otávio, o filho adotivo do assassinado Júlio César. Sua administração foi tão brilhante que ele foi cognominado de Augusto. Cícero, acostumado à corrupção reinante, usou de seu sinete e sua habilidade oratória para desmoralizar Augusto, em defesa da casta podre de senadores que o fez milionário. Tudo ele fazia em nome da república, enquanto enriquecia. A história nos conta que nas proscrições (ajuste de contas com os conspiradores de Júlio César) Cícero foi enquadrado como traidor e, sem mercê, decapitado. Suas mãos foram pregadas na porta principal do Foro Romano e lá permaneceram por seis meses, até apodrecerem.

Voltando ao jurista brasileiro morto: Se existe algum consolo para a nação brasileira, é que dela foi subtraído um defensor de corruptos milionários próximos ao poder. Para a Academia de que faço parte e na qual se julga o homem por seus méritos intrínsecos à luz das referências mundiais do conhecimento, esse homem não fará falta alguma, mesmo porque nas melhores escolas de Direito do mundo ele é considerado um ilustre desconhecido.

Podem nos subtrair a liberdade, mas jamais subtrairão nossos sonhos. Esse não era o fim que eu desejava ao Sr. Thomaz Bastos. Para ele, na minha ótica de História, eu mais desejaria o final destinado a Cícero.

Artigo de Sérgio Colle (professor da UFSC)...  

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Nº 119882   -    enviada por     Francisco Costa   -   Capivari/SP/     em   10/02/2015


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