Senhor, tu sabes melhor do que eu que estou envelhecendo a cada dia.
Sendo assim, Senhor, livra-me da tolice de achar que devo dizer algo, em toda e qualquer ocasião.
Livra-me, também, Senhor, deste desejo enorme que tenho de querer pôr em ordem a vida dos outros. Devo entender que eles podem, às vezes, estar com a razão.
Ensina-me a pensar nos outros e a ajudá-los, sem jamais me impor sobre eles, mesmo considerando com modéstia a sabedoria que acumulei e que penso ser uma lástima não passar adiante.
Tu sabes, Senhor, que desejo preservar alguns amigos e uma boa relação com os filhos e netos, e que só se os preserva quando não há intromissão na vida deles.
Livra-me, também, Senhor, da tolice de querer contar tudo com detalhes e minúcias e dar asas à minha imaginação, para voar diretamente ao ponto que interessa.
Não me permita falar mal de alguém.
Ensina-me a fazer silêncio sobre minhas dores e doenças...
Elas estão aumentando e, com isso, a vontade de descrevê-las vai crescendo a cada ano que passa.
Não ouso pedir o dom de ouvir com alegria a descrição das doenças alheias; Seria pedir muito.
Mas, ensina-me, Senhor, a suportar ouvi-las com paciência.
Ensina-me a maravilhosa sabedoria de saber que posso estar errado em algumas ocasiões. Já descobri que pessoas que acertam sempre são maçantes e desagradáveis.
Mas, sobretudo, Senhor, nesta prece de envelhecimento, peço:
Mantenha-me o mais amável possível.
Livrai-me de ser santo.
É difícil conviver com santos!
Mas um velho rabugento, Senhor, é obra prima do diabo!
Poupe-me, por misericórdia.
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Nº 118385 - enviada por Vera Maria B. Oliveira - Bauru/ em 28/08/2014 | | |