Alzheimer tira Antônio Ermírio de Moraes do comando do Grupo Votorantim
O empresário Antônio Ermírio de Moraes, 85 anos em junho, responsável pelo crescimento e consolidação do Grupo Votorantim, principal indústria produtiva do país, está com Alzheimer e não sai mais de casa. A história está relatada no excelente livro “Antônio Ermírio de Moraes — Memórias de um Diário Confidencial” (Planeta, 350 páginas), de José Pastore, Ph.D em sociologia pela Universidade de Wisconsin e professor da Universidade de São Paulo (USP). É mais um depoimento — muito bem feito — do que uma biografia.
Workaholic assumido, Antônio Ermírio trabalhava nas várias empresas do grupo e, sem receber um centavo, dava expediente diário na Beneficência Portuguesa, um dos melhores hospitais do país. Aos poucos, embora o homem permanecesse decidido, seu organismo foi cedendo a uma série de doenças. Em 1998, diagnosticada “uma fraqueza em seu coração”, teve de colocar marca-passo. “Estou me sentindo como um garoto, vou j á para o escritório”, disse. Tinha 70 anos. Mas, conta Pastore, “ficou frustrado ao saber que o marca-passo o impediria de visitar as salas-forno da fábrica de alumínio devido à presença de alta voltagem e muita magnetização. Não gostou dessa restrição, pois fazia parte de sua rotina fazer verificações pessoais de todos os equipamentos da CBA”.
Em 2004, aos 76 anos, foi operado de um tumor maligno no intestino pelos médicos Angelita Habr e Joaquim Gama Rodrigues. “Mas houve graves sequelas que decorreram de um pós-operatório complicado e marcado por inúmeros episódios de hipertensão. Vi que os médicos estavam aflitos. Não conseguiam baixar a pressão. Temiam um derrame cerebral a qualquer momento.”
Antônio Ermírio era muito resistente e sempre surpreendia os mais jovens, que não conseguiam acompanhar seu pique. Porém, depois da cirurgia, Pastore diz que passou a perceber no empresário “nítidos sinais de cansaço” . O dirigente do Votorantim “passou a se deitar durante o expediente de trabalho — coisa inédita. Já não conseguia esconder seu estado de prostração. O quadro foi se agravando. Junto com isso, acentuaram-se os lapsos de memória que já eu vinha observando havia muito tempo. Preocupei-me com o novo quadro, porque o esquecimento foi se acentuando dia a dia”, relata Pastore.
Os médicos descobriram que havia dois males: hidrocefalia (excesso de líquido na caixa craniana) e Alzheimer. Em 2006, médicos de Cleveland, nos Estados Unidos, implantaram uma válvula no crânio de Antônio Ermírio “para drenar o excesso de líquido”.
No entanto, o quadro só melhorou nas primeiras semanas. “Apesar de vários ajustes na válvula, os resultados continuaram decepcionantes. Foi tudo muito triste. Antônio foi perdendo os movimentos das pernas. O problema se agravou com espantosa rapidez. A hidrocefalia lhe tirou a capacidade de caminhar, levando -o à cama, e o Alzheimer tirou-lhe a capacidade de acompanhar o cotidiano.”
Antônio Ermírio está vivo, mas não é, claro, o mesmo homem de antes — aquele que, no auge de sua energia, dizia que queria morrer trabalhando. Pastore registra: “Foi um destino cruel. Duas doenças se irmanaram para aniquilar o dinamismo e a criatividade de um homem inteligente, permanentemente animado e que sempre pediu a Deus para que o mantivesse trabalhando até os últimos dias de sua vida”.
Uma das qualidades do empresário era sua excelente memória, mas o Alzheimer a devorou. “Hoje”, conta Pastore, Antônio Ermírio “pouco reage”.   - Visite www.apdobanespa.com
Nº 116352 - enviada por Neyde Pitt Garófalo - São Paulo/SP/ em 28/01/2014 | | |