BB tenta coagir funcionários para acabar com a greve



            O Banco do Brasil lembrou nesta quarta-feira os piores banqueiros do setor privado e, num rompante ditatorial, tentou coagir seus funcionários em Brasília a votar contra a continuidade da greve e pela aprovação da proposta apresentada pela empresa. Ontem à tarde, o BB convocou uma reunião com aproximadamente seiscentos funcionários com cargos de chefia, numa tentativa de forçá-los a comparecer na assembléia e rachar o movimento grevista na Capital Federal.

O Sindicato dos Bancários de Brasília formalizou ontem mesmo uma denúncia contra o BB no Ministério Público do Trabalho. “No entender do próprio MP, o banco feriu a Constituição, que estabelece o livre direito à greve”, detalhou o vice-presidente da CNB/CUT, Milton Rezende.

O Ministério Público convocou o Banco e o Sindicato para uma audiência na Procuradoria Regional do Trabalho, 10ª Região de Brasília, às 16h de hoje. “É uma audiência para estabelecer os procedimentos de conduta das partes envolvidas. Ela não tem força jurídica, mas pesa muito numa futura ação”, explicou Milton, que participa do encontro.

Para o sindicalista, a postura do BB ontem foi ultrapassada e remonta as ações do patronato contra os sindicatos no começo do século passado ou na época da ditadura. “O banco coagiu seus funcionários a se posicionarem a favor da empresa na assembléia. A reunião com estes bancários em cargos de chefia nem deveria ter sido marcada, pois está implícito que o objetivo do banco era ameaçar, amedrontar os bancários”, comentou.

Milton ressaltou que o BB deveria privilegiar o caminho das negociações, ao invés de interferir na decisão dos bancários. “A prática do Banco do Brasil foi comprovadamente anti-sindical. Não dá para aceitar isto em pleno século 21. É uma atitude ultrapassada e muito triste, principalmente porque vem de uma empresa que é majoritariamente do governo”, lamentou.

Interdito

Além de coagir seus funcionários a votarem contra a continuidade da greve em Brasília – o que acabou surtindo um efeito na assembléia com um racha na decisão dos bancários – o Banco do Brasil entrou na Justiça e pediu um interdito proibitório, que é uma medida preventiva contra manifestações e piquetes que poderiam impedir o acesso de funcionários, clientes e usuários às dependências do banco.

O Sindicato ainda não foi comunicado oficialmente do interdito, mas um oficial de Justiça tem procurado sindicalistas nas manifestações. “O BB está jogando pesado nesta greve. Estamos praticamente fugindo do Oficial de Justiça, pois a intenção do banco é mesmo esvaziar a mobilização dos bancários”, concluiu o presidente do Sindicato de Brasília, Jacy Afonso.





099-19/09/2004
Celeste Viana


VOLTAR