Responsabilidade e conseqüência



        Desde o mês de junho o Sindicato está empenhado em arrancar dos banqueiros a melhor proposta para a categoria. Foram meses de trabalho que alcançaram importantes avanços. Há quatro anos, os bancários não têm aumento real em seus salários. O último, no ano de 2000, foi da ordem de 0,22%.

Foi durante esse período, e mesmo contra a vontade do Sindicato – mas dentro do que a mobilização conseguiu alcançar –, que os banqueiros criaram a "cultura do abono". Pressionados por dívidas ou outros anseios imediatos, os bancários preferiram aceitar dinheiro de ocasião no bolso – que na realidade volta é para a conta do banqueiro, para honrar dívidas como a do cheque especial – em vez de insistir na luta por porcentagens reais, e definitivas, de reajuste em seus salários.

Como toda cultura, essa também é difícil de mudar. Mas não podemos abrir mão de tentar. O Sindicato tem a responsabilidade de, ano a ano, negociar as melhores condições financeiras e de trabalho para sua categoria. Este ano, diante da leve recuperação da economia do país, foi possível encontrar abertura para negociar aumento real em vez de abono. E se a tendência de economia em alta se confirmar, essa será a nova lógica a ser buscada.

O que a primeira vista parece ruim é, na verdade, a recuperação do poder de compra do trabalhador. Com o aumento real todos os bancários podem ter de 1,74% a 5,75% de aumento em seus salários, com impactos também nas férias, no 13º, no FGTS, nos auxílios alimentação e refeição. Não é dinheiro que resolve de imediato os problemas financeiros, mas significa perspectiva mais duradoura na qualidade de vida da categoria – inclusive porque a recuperação salarial é o remédio mais eficaz contra as dívidas. O piso dos bancários valia, em 1994, 4,3 salários mínimos; em 2003, não passava de 2,6 mínimos. Com o reajuste de 12,77%, iniciaria sua recuperação, passando a valer 3,05 salários mínimos.

Essa desvalorização que corroeu o piso – para a qual uma série de fatores contribuíram, dentre eles os abonos – estendeu-se a todos os salários. E não pode continuar.

A proposta alcançada no processo negocial com os banqueiros é a possível. E a melhor dos últimos anos. A ausência de abono não deveria nos desnortear a ponto de questionarmos se é melhor receber 12,6% de reajuste numa inflação de 17,5%, do que 8,5% (no mínimo), numa inflação de 6,64%.

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região não é um dos maiores da América Latina por acaso. Tem, em sua direção e na sua base, trabalhadores conscientes do seu papel e da sua importância na sociedade. E isso se constrói com muito trabalho e esforço, reconhecendo suas responsabilidades e sabendo medir as conseqüências de cada ato.

A assembléia desta terça vai decidir se a proposta negociada com os banqueiros merece ou não ser aceita. Caso rejeitada, iremos, todos juntos, à greve a partir do dia 21. Mas sem esquecer a responsabilidade que cada um tem nessa decisão e do papel que deverá exercer, depois, na construção de um movimento vitorioso.

Fonte: FOLHA BANCÁRIA




092-17/09/2004
Celeste Viana


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