A Praça Panamericana, núcleo de um bairro elegante na cidade de São Paulo, reúne agências de todos os grandes bancos do País. Entre elas, a poucos metros de distância uma da outra, encontram-se pontos com as bandeiras do Santander e do Banespa, ambas pertencentes ao mesmo grupo financeiro, o espanhol Santander. Não é raro que as pessoas se perguntem por que agências de um só dono convivam tão próximas. A resposta: porque os dois sistemas de informação e comunicação são independentes, não se falam. Pois essa restrição tem seus dias contados. O grupo Santander está na fase final da integração das duas plataformas tecnológicas, um gigantesco projeto iniciado na compra do Banespa em 2000 e acelerado nos últimos dois anos. A conclusão estava prevista para julho deste ano. Não deu tempo. Foi remarcada para setembro, mas há quem acredite que um novo adiamento será necessário, possivelmente para final de novembro.
Jaramillo, presidente -
O colombiano parte para a segunda onda de reestruturação desde a compra do Banespa em 2000
Não se trata apenas de uma mudança tecnológica. A integração abre um mundo de possibilidades para a quarta maior instituição financeira privada do País. Com ela, clientes de uma bandeira, o Santander, por exemplo, poderão utilizar todos os serviços do Banespa, e vice-versa. Ou seja, correntistas do Banespa e do Santander passarão a compor uma única base de clientes. A partir daí, aquela pergunta recorrente de quem circula pela Praça Panamericana (e por centenas de outras localidades do País) se torna mais pertinente: por que manter duas agências tão próximas? A integração permite que, nesses casos, clientes de uma delas possa ser transferido para a outra sem qualquer transtorno na operação. Assim, o número de pontos de atendimento das duas bandeiras poderá ser reduzido. Por tabela, o quadro de funcionários também diminuirá. Analistas do setor acreditam que algo entre 10% e 20% da rede possa passar por algum tipo de alteração. “Mas é uma conta aritmética”, diz um executivo do setor. “Cada agência, cada região e os impactos na clientela tem que ser analisados com cuidado para saber se realmente há sobreposição de funções e serviços.” A maior vantagem seria colhida na capital paulista, segundo o consultor Erivelto Rodrigues, da Austin Rating. Segundo ele, a instituição ainda tem duplicidade de agências em alguns pontos da cidade, mas não sobreposição no perfil de clientes. “Então é só fazer uma transferência da carteira de correntistas de uma agência para outra, com baixíssimo custo e risco muito reduzido”, diz Rodrigues. “Enfim, o Santander conseguirá o melhor dos mundos.” Por enquanto, tudo isso está no campo das hipóteses e não há decisões a respeito. Dentro do banco, o assunto é tratado como “segredo de estado”.
Hoje, a rede Santander/Banespa soma cerca de dois mil pontos de venda e empregam 21 mil pessoas. Ambas as redes estão concentradas no Estado de São Paulo, o que abre mais possibilidades de enxugamento no número de agências. No final desse processo, a pequena inscrição abaixo Santander Banespa, colocada abaixo do nome Banespa, poderá se tornar a marca principal do banco. A instituição não deverá se arriscar a eliminar de vez a assinatura Banespa, devido à sua força junto aos consumidores do interior do estado. Esta será a segunda grande onda de reestruturação do Banespa. A primeira, também liderada pelo colombiano Gabriel Jaramillo, ocorreu logo depois da privatização, quando os espanhóis arremataram a instituição paulista por R$ 7 bilhões. Desde então, cerca de nove mil dos 14 mil funcionários saíram (ou foram saídos) do conglomerado. O Banespa tinha na ocasião uma média de 25 funcionários por ponto de venda. Hoje essa proporção está próxima de nove. O desempenho financeiro do grupo reflete os resultados dessa ampla reforma. No primeiro semestre deste ano, os ativos atingiram R$ 75 bilhões e o lucro líquido bateu em R$ 1,01 bilhão. A unificação das plataformas tecnológicas deve vitaminar ainda mais esses números.
Fonte: Isto é
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