Dinheiro esquecido em cofres de banco


Uma fortuna está abandonada nos bancos à espera de seus donos há 22 anos. O dinheiro esquecido, que soma R$ 584,3 milhões, pertence aos investidores que entre as décadas de 60 e 80 se empolgaram com o sucesso do chamado Fundo 157. Criado pelo governo em 1967, com a finalidade de atrair o investidor pessoa física para o mercado de ações, permitia aos contribuintes aplicar parte do Imposto de Renda (IR) devido. Com esse apelo, 3 milhões de pessoas tornaram-se cotistas do 157, que funcionou até 1983, quando foi desativado pelo governo e deixou de receber novos depósitos.

Como esses Fundos tinham prazos de carência para resgate superiores a dois anos, muita gente acabou se esquecendo do dinheiro aplicado. E é esse montante que hoje está espalhado entre diversas instituições financeiras. Segundo cálculos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), há 3,4 milhões de contas pendentes de solução. Várias delas pertencentes a um mesmo titular, pois era permitido ao contribuinte da Receita Federal aplicar em mais de um banco. “Em 1996, enviamos cartas a todos os cotistas lembrando a existência desse dinheiro, mas muita gente morreu ou mudou de endereço”, explica o superintendente de orientação aos investidores da CVM, Marcelo Marques.

O saldo médio das contas do Fundo 157 é de R$ 170, mas grande parte dos cotistas tem a receber menos que isso. “Há casos em que a pessoa resgata apenas R$ 10. Recomendo não criar grande expectativa em relação a esse dinheiro”, diz Marques. A CVM tem um serviço de informações pelo telefone 0800-241616 que ajuda rastrear o fundo. Com base no número do CPF do investidor, é localizada a instituição gestora do Fundo 157. No caso de bancos liquidados, o dinheiro foi transferido para outra instituição. O processo de resgate não é complicado e leva até cinco dias. Se o investidor ainda tiver o comprovante da aplicação, emitido na ocasião pela Receita Federal, fica ainda mais fácil localizar o dinheiro. “Quem se lembra de onde aplicou o dinheiro deve procurar diretamente a instituição financeira”, observa Marques.

Por causa de falhas na legislação e fiscalização pouco rigorosa daquela época, os Fundos 157 praticamente deram pouco retorno aos investidores. No fim das contas, as altas taxas de administração cobradas pelos bancos corroeram os depósitos. Apesar disso, há quem não se arrependa de ter optado pelo investimento. É o caso do analista de mercado financeiro Sérgio Portela, que faz parte do grupo de investidores que teve um resíduo do fundo a receber. “Conheço muita gente que simplesmente se esqueceu desse dinheiro. Não me lembro se a rentabilidade era a mais adequada, mas só de poder abater o valor no imposto devido à Receita, foi um bom negócio”, afirma. Os Fundos 157 tiveram uma importante contribuição no crescimento das empresas brasileiras. O dinheiro aplicado nesses fundos garantiu o financiamento de companhias beneficiadas por programas de incentivo do governo. “A Coteminas, por exemplo, cresceu com a ajuda desse dinheiro, beneficiada pela Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste)”, diz Portela.

Fonte: Rede Globalinfo



641 - 17/06/2005
Alfredo Rossi

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