Inflação dos idosos é maior



Há brasileiros que sofrem mais a inflação.

Enquanto os preços para a população em geral subiram nos últimos 12 meses 5,8%, o consumo dos idosos brasileiros enfrentou uma inflação 16,42% maior. O resultado, que faz parte de estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), surpreendeu os técnicos da instituição. “Significa que o poder de compra das pessoas mais velhas foi afetado não apenas pela inflação acumulada no período, mas 16% acima dela”, resume Marcelo Neri, economista da FGV. O indicador utilizado no trabalho foi o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – no caso da terceira idade, o IPC (já apelidado pela Fundação como IPC-3I) acumulado nos últimos 12 meses chegou a 6,5%.

A inflação acima da média é explicada, principalmente, pela alta nos preços de produtos como os remédios e os chamados alimentos diet – são produtos que, sobretudo no caso dos medicamentos, têm peso maior no total consumido pelos mais velhos. Eles também tiveram, nos últimos meses, reajustes superiores à média geral.

Segundo as últimas pesquisas demográficas, os idosos formam um universo de pelo menos 15 milhões de pessoas no País, e são a parcela da população que mais cresce nos últimos anos – a tendência, de acordo com essas mesmas pesquisas, é que o total de pessoas com mais de 60 anos ultrapasse 30 milhões daqui a 25 anos. O objetivo da FGV, ao criar índices como o da terceira idade, é auxiliar na promoção de políticas públicas específicas. “A Constituição de 1988 e o Estatuto do Idoso de 2003, para citar exemplos mais conhecidos, buscam garantir o poder de compra dos idosos”, lembra Neri. “Mas não especificam referências ou indexadores.” Neri é um dos economistas que trabalhou na elaboração do IPC-3I – os outros são Vagner Ardeo, André Braz e Salomão Quadros, todos professores da FGV e integrantes do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). A idéia, segundo eles, é, a partir do IPC-3I, elaborar outros índices de preços específicos – uma “inflação das crianças”, segundo Neri, já está sob a análise dos economistas da FGV.

Além dos últimos 12 meses, os técnicos compararam também o IPC geral com o IPC-3I desde maio de 1996 – ou seja, a partir da introdução do real como moeda brasileira. O período, marcado pela relativa estabilização dos preços – após anos de inflação crônica –, também representou queda no poder de compra dos mais velhos superior a do restante da população. Nesse caso, a perda foi ainda maior: a inflação dos idosos foi 19% maior.

A composição do consumo da terceira idade privilegia os gastos com saúde o cuidados pessoais. Por outro lado, despesas com transporte e vestuário são menores. Como os preços dos remédios subiu mais, o IPC-3I criado pela FGV teve alta maior. Com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), da própria Fundação, os técnicos concluíram que 15% dos gastos totais dos idosos vão para a saúde (contra 10,4% da população em geral). No caso dos transportes, em que a terceira idade é beneficiada por programas como o passe livre, a proporção de gastos é de 7,8% e 11,7%, respectivamente.

Os maiores vilões da inflação dos idosos foram Habitação (118% de alta no Plano Real), Alimentação (110%) e Saúde (52%, embora com peso específico maio em relação à inflação geral). No caso do IPC-total, os grupos de Educação e Transportes tiveram impactos mais expressivos do que os de Saúde.

Fonte: Afabesp




006-17/07/2004-Luiz Mraz

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