A favor dos juros

Política do BC recebe saraivada de críticas, dentro e fora do governo, de Marco Aurélio Wissheimer, de 22/04/2005.


Acompanhando o debate sobre a política de juros do governo federal, fico admirado como pode ser deixada de lado a racionalidade e todos os envolvidos passarem a repetir o mesmo mantra, ignorando o seu real significado, numa cegueira coletiva. Chega a parecer o famoso princípio formulado por Goebels aplicado pela oposição. Uma mentira repetida à exaustão transforma-se numa verdade. O abandono da racionalidade reside em que alguns fatos básicos são simplesmente ignorados por todos os envolvidos, mesmo os economistas. Senão vejamos:

a.. O ponto fraco da economia brasileira são as contas externas. Fabricamos reais, não fabricamos dólares. Comandamos a taxa de juros interna, não a externa. A dívida externa e os encargos dela decorrentes são o nosso grande entrave e aumentaram brutalmente nos dois governos anteriores ao de Lula.

b.. A política econômica em curso visa a diminuir nossa vulnerabilidade externa e a dívida já diminuiu em alguns pontos percentuais (ao contrário do que vinha ocorrendo antes). O seu principal instrumento é o saldo positivo da balança comercial.

c.. Este superavit da balança comercial é extremamente inflacionário. A política de superavit comercial foi a marca do final do regime militar e coincidiu com as maiores taxas de inflação que o Brasil já viveu. O plano real controlou a inflação valorizando o real e assim invertendo os sucessivos superavists comerciais da época para déficits. Hoje, mesmo com os juros relativamente altos e controle fiscal, ainda percebemos a força latente da inflação, que insiste em ultrapassar as metas definidas.

d.. Os maiores prejudicados pela baixa da taxa de juros e pela conseqüente inflação seriam a população mais pobre e todos os assalariados, que não têm como defender o poder de compra do salário em época de inflação. Estes já demonstraram, por via das urnas, que não aceitam pagar a conta da dívida externa e do superavit comercial via inflação. Vamos entender a vontade do povo.

e.. Os maiores beneficiados pela baixa da taxa de juros e pela conseqüente inflação seriam os empresários que teriam no mercado interno aquecido a possibilidade de expandir seus negócios, sempre mantendo o poder de compra de seu dinheiro frente à inflação que viria, por sucessivos aumentos dos preços.

Assim, para evitar a hipocrisia, só deveria reclamar dos juros altos o empresário que se indignou e elevou sua voz contra o aumento das dívidas externa e interna causados pela política econômica desastrada do governo anterior ao de Lula, política esta de manutenção artificial e irresponsável do real sobrevalorizado.

Proponho assim que, para retomar a racionalidade do debate em torno dos juros, sejam reintroduzidas as idéias acima expostas para que aqueles que não entendem o economês não sejam levados a apoiar um movimento que prejudique a si mesmos e para que, compreendendo o que de fato está em jogo, possamos defender nossos interesses.

Para Agência Carta Maior - Seção Carta do Leitor - Caio Graco Simões Lopes




479 - 23/04/2005
Caio Graco

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