Terceirização reduziu salários em telefonia


A reestruturação da telefonia no Brasil modernizou os serviços ao consumidor, mas as terceirizações reduziram os salários de trabalhadores do setor em até 40%. A conclusão está na tese de doutorado de Sirlei Márcia de Oliveira, apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

O estudo comparou a organização e as relações de trabalho na estatal Telesp e na Telefônica, que assumiu a telefonia fixa em São Paulo após a privatização, em 1998. Sirlei aponta que a Telesp tinha 24 mil funcionários e a Telefônica possui 7.100.

"A empresa pública concentrava-se em engenharia, operação e apoio, enquanto a Telefônica priorizou a venda de linhas e a supervisão das demais tarefas, repassadas a prestadores de serviço em áreas", explica. "Existem 20 empresas trabalhando para a Telefônica, num total de 42 mil funcionários, metade dos trabalhadores do setor no estado de São Paulo."

Durante a reestruturação, aponta a pesquisadora, houve grande número de demissões, atingindo trabalhadores mais experientes e com menos escolaridade.

"Em 1997, 68,5% dos trabalhadores em telefonia tinham entre 30 e 49 anos, número que caiu para 54,8% após a privatização, e os empregados entre 18 e 29 anos passaram de 22,1% para 39,2% no mesmo período", relata. "Os cabistas, instaladores e reparadores da Telesp foram demitidos, e as terceirizações reduziram a média salarial destes setores entre 30% e 40%".

Negociações

De acordo com Sirlei, as condições de trabalho na área de telefonia mudaram com a privatização. "Houve perda de benefícios, embora as jornadas de trabalho tenham aumentado e as reestruturações funcionais sejam constantes", afirma.

"As antigas diretorias da Telesp foram substituídas por equipes com menos níveis hierárquicos, e os planos de carreira deram lugar a avaliação individual e o cumprimento de metas." As terceirizações pulverizaram os trabalhadores do setor, limitando a ação dos sindicatos, observa a pesquisadora.

"Os empregados da Telesp estavam reunidos em um único sindicato, o Sintetel, que negociava os acordos coletivos com a empresa", diz. "Hoje, há trabalhadores ligados a vários sindicatos, como o da construção civil e o dos operadores de telemarketing, que realizam negociações em separado e com várias empresas, reduzindo o poder de barganha dos trabalhadores."

Para realizar a pesquisa, Sirlei entrevistou 72 pessoas, entre gerentes e trabalhadores da Telefônica e de duas empresas prestadoras de serviço, nas áreas de telemarketing e instalação e manutenção de linhas, além dos sindicalistas.

"Há uma grande preocupação da Telefônica com o controle de qualidade, que é estendido aos serviços terceirizados", diz. "Mas apesar da expansão das linhas, o preço das assinaturas ainda inibe consumidores de baixa renda." (Júlio Bernardes - Agência USP de Notícias)





341 - 22/02/2005
Fernando Petermann

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