Tarifas bancárias cobrem com folga gastos com pessoal


    Apenas a receita com cobrança de serviços bancários paga com folga os salários dos funcionários das instituições financeiras. Em 2004, o faturamento das tarifas dos bancos correspondeu a 113,4% do valor gasto com a folha de pagamento. Na receita total dos bancos, a fatia dos serviços foi de 17,3%. O levantamento foi feito pela ABM Consulting, empresa do ABM Group, com sede em Ribeirão Preto.

Há dez anos, o dinheiro arrecadado com as tarifas bancárias representava menos de um décimo do faturamento total do bancos: 9,1%. De lá para cá, o peso dos serviços quase dobrou, chegando aos 17,3%, em média, do ano passado.

Especialistas da consultoria analisaram a evolução das receitas entre 1995 e 2004, considerando os balanços financeiros de seis bancos: Bradesco, Unibanco, Itaú, Safra, Banco do Brasil e Banespa. Em 1995, a receita de serviços destes bancos correspondia a apenas 37,7% da folha de pagamento. No ano passado, o faturamento com a prestação de serviços chegou a R$ 19,29 bilhões, valor 13,4% superior às despesas com pessoal. Em 2004, foram considerados os valores consolidados até setembro, já que alguns bancos ainda não divulgaram o balanço do quarto trimestre.

Segundo o analista financeiro Gustavo Pedreira, da ABM Consulting, a tendência é que a arrecadação com tarifas bancárias nas instituições brasileiras continuem crescendo nos próximos anos de modo atingir os mesmos patamares dos bancos internacionais. Nos bancos europeus, a participação dos serviços no faturamento dos bancos está em torno de 29%. Entre os bancos americanos, está acima dos 30%.

Entre os bancos pesquisados no Brasil pela ABM Consulting, o Itaú é o que aparece atualmente com maior participação das receitas de tarifas no faturamento total, com quase 27%. Em 1995, o banco faturou R$ 900 milhões com tarifas, o que correspondia a 75,3% das suas despesas com pessoal. Em 2004, até setembro, a receita de serviços era de R$ 5,05 bilhões, ou 193,9% do valor da folha de pagamento.

Segundo Pedreira, as receitas com tarifas bancárias começaram a ter crescimento expressivo a partir de 1999. Dois fatores contribuíram para a alta: o aumento da base de clientes do sistema bancário nacional e o crescimento do mix de serviços prestados pelos bancos. Serviços de internet banking, por exemplo, é uma receita que só começou a entrar nos últimos anos. Os de private banking, que costumam ter tarifas altas, apareceram há menos de dois anos.

O aumento das tarifas, claro, também teve sua contribuição no crescimento dos ganhos dos bancos com serviços. De acordo com o analista financeiro da ABM, a análise dos últimos dez anos mostra que, de modo geral, as instituições financeiras reajustaram suas tarifas em percentuais acima da inflação do período. Fica a critério de cada banco definir quais serviços serão tarifados e os valores que serão cobrados dos clientes.

De acordo com cálculos feitos pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista, as tarifas bancárias comem um salário mínimo por ano de cada trabalhador. A entidade, através das empresas empregadoras, conseguiu fechar acordos com Itaú e Unibanco para reduzir os preços cobrados pelos serviços para 15 mil operários filiados ao sindicato.

"Na década de 90 ainda era comum as empresas pagarem os funcionários em espécie, em envelopes. Hoje todo mundo paga com depósito com conta corrente", observa Gustavo Pedreira, num exemplo de como o crescimento da base de clientes contribuiu para o aumento da receita dos bancos.

Valor Online




317 - 14/02/2005
Cláudio José

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