Dinheiro na hora?

Taxas de juros menores nos empréstimos para aposentados podem ser uma armadilha


    Os juros são pequenininhos", diz a propaganda. Os bancos descobriram o filão dos empréstimos com desconto em folha de pagamento do INSS e agora anunciam aos quatro cantos a vantagem desse empreendimento. Segundo o economista Claudio Boriola, cerca de 1 milhão de segurados do INSS pediram empréstimos desde maio de 2004, quando foi criada essa política. Foram movimentados mais de R$2,7 bilhões nessas transações.

Empréstimos consignados, como são chamados, são um consolo para os aposentados que perdem cada vez mais o poder de compra. A burocracia está cada vez menor, assim como as taxas de juros, que são, em média, 2,5% ao mês. Bem mais reduzidas em comparação com as abusivas do cartão de crédito, do cheque especial e de algumas prestações de compras, que chegam a 12% ou mais.

Os empréstimos representam mais segurança para o financiador e, por isso, permitem as vantajosas taxas para os devedores. Porém, essa política de incentivo ao consumo pode virar uma bola de neve no orçamento doméstico, como alertou o economista Luis Carlos Ewald, autor de "Sobrou dinheiro! Lições de Economia Doméstica".

"Várias pessoas usam os empréstimos menores para limpar o nome em órgãos fiscalizadores como o Serasa e no SPC e, dessa forma, poder se endividar novamente. Vira um círculo vicioso que tende a muita insegurança e instabilidade", diz.
 
Segundo os consultores financeiros, a cultura do brasileiro, acostumado em ver seu dinheiro esvair com a inflação, é de poupar de menos e gastar demais. Somado ao desemprego, que arrocha os salários e não permite que eles acompanhem a inflação, fica difícil controlar o orçamento doméstico.

É preciso tomar muito cuidado, pois as taxas de juros dos empréstimos continuam altas, em comparação com o rendimento dos fundos de investimentos. "Empréstimos como esse só devem ser tomados em situações de muita emergência, como para quitar outra dívida com juros mais altos ou resolver algo como a urgência de uma obra e a impossibilidade de pagar à vista", explicou o consultor José Segundo Filho, autor de "Finanças Pessoais: Invista no seu Futuro".

Mesmo nos casos urgentes, é aconselhada uma pesquisa entre as instituições financeiras. "A concorrência permite que as taxas de juros variem de banco para banco. Bancos menores normalmente oferecem rapidez e com pouca burocracia, porém, cobram juros mais altos do que as instituições maiores", explicou Luis Carlos Ewald.

A pesquisa entre as instituições já é uma grande ajuda na organizar o orçamento e evitar maiores estresses. Mas não basta. O mais importante é se esforçar para pensar no futuro e evitar ao máximo precisar de novos empréstimos. "Fomos ensinados a gastar o dinheiro e não a como lidar com o dinheiro. Falta uma educação que ensine a população a administrar seus ganhos e despesas, que lhe mostre o quanto seu dinheiro deve ser valorizado e como deve ser investido", acredita Cláudio Boriola.

Por Simone Muniz



314 - 05/02/2005
Álvaro Pozzetti

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