Sindicalismo num mundo em mudança desafia bancários |
O Sindicalismo no Século XXI foi o tema do seminário ocorrido ontem, 27, no auditório Rio Grande do Sul do Hotel Everest, no centro de Porto Alegre. A atividade, promovida pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região, em parceria com a Federação dos Bancários do RS, Apcef-RS e CUT-RS, integrou a programação do V Fórum Social Mundial. Os painelistas foram o professor do Departamento de Ciências Econômicas e do Programa de Pós-graduação em Economia da UFRGS, Carlos Henrique Horn, e o professor titular de Sociologia do Trabalho da Unicamp-SP, Ricardo Antunes. Cerca de 80 pessoas participaram do evento. Os dois professores foram enfáticos: “é necessário um outro sindicalismo neste novo mundo do trabalho”. Horn, que foi técnico da antiga subseção do Dieese no Sindicato e ex-presidente do BRDE no governo Olívio Dutra, iniciou sua exposição partindo da obviedade, segundo ele mesmo, “os sindicatos atravessam um período crítico”. Sua apresentação foi baseada em dados e relatórios publicados pela OIT. Ele explanou a partir de números dos anos 80, destacando a redução da quantidade de sindicalizados nos continentes, onde a África apresentou um crescimento e a Europa um declínio. Além do número de sindicalizações, Horn apresentou outras fontes de poder do sindicalismo, como a estruturação das negociações coletivas, a presença nos locais de trabalho (delegados sindicais, entre outros), a presença e ação nos parlamentos, além de ações políticas gerais na sociedade. “Esse mundo do trabalho globalizado é um mundo de pressões competitivas crescentes através do comércio internacional que levam as empresas a tomarem uma posição mais rígida quanto aos salários, ...e passam por processos de reestruturação na busca de flexibilidade que envolve terceirização, novos métodos de gestão de pessoal, etc. Em geral esses processos trazem dificuldades para os sindicatos”. Horn faz uma ligação desses novos métodos com uma nova postura onde os sindicatos irão procurar negociar esses processos de produção. Antunes lembrou que “no Brasil estes (bancários) que já foram quase 1 milhão em meados de 1980, hoje reduzem-se a cerca de 400 mil. Cerca de 60% deles viraram suco.... Terceirizaram, precarizaram, desempregaram. Agora, quando tantos diziam que os bancários não mais fariam greve, estamos vendo um belo movimento que paralisou mais de 200 mil homens e mulheres que laboram nos bancos, onde as máquinas falam e, quanto mais emitem som, mais parecem desempregar”. O sociólogo citou o atual presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, que em seu livro “O Brasil desempregado” abordou questões como a desestruturação produtiva e a precarização das condições de trabalho no Brasil, que nos governos Collor e FHC levaram aos maiores índices de desemprego da história do país. "Quando Mattoso dizia que uma das desordens do trabalho é a terceirização, não podia imaginar que estaria algum dia à frente de uma das empresas que mais precariza as condições de trabalho", alfinetou. Para Antunes, a luta contra a terceirização é fundamental, sem esquecer que os terceirizados são também trabalhadores. O sociólogo foi taxativo: “é o fim do mundo um sindicato terceirizar”. Ele lembrou ainda o livro de Thomaz Wood Jr., que trata do “reino encantado da nova economia, que movido a inovações rápidas e, viabilizado pela flexibilidade do trabalho, esconde porões úmidos e sombrios”. Ao finalizar, Antunes afirmou que a individualização é uma tendência imposta pelo mundo do trabalho e devemos criar um outro sindicalismo. O seminário foi coordenado pelo secretário-geral do Sindicato, Amaro Silva de Souza, e pelo diretor Paulo Casa Nova. |