O perfil do setor financeiro no Brasil passou por
uma grande mudança a partir da última década. Sua estrutura de
predominância estatal, com a presença de alguns bancos privados
fortes de capital nacional, transformou-se em estrutura privada, com
diversas empresas de capital internacional. O Santander foi
escolhido para a pesquisa por causa da forte presença na América
Latina. De uma participação inexpressiva no mercado brasileiro em
1997, conquistou, em 2000, a posição de terceiro maior banco privado
do país. Realizada entre setembro de 2000 e agosto de 2001,
a pesquisa se restringiu à análise da empresa na sede de sua matriz
no Brasil, a cidade de São Paulo. Foram feitas avaliações
qualitativas a partir da leitura que os trabalhadores e
sindicalistas fazem da empresa. Também analisou-se documentos
públicos e dados quantitativos sobre o setor bancário em geral. O
Observatório Social buscou a cooperação da empresa, mas a diretoria
de Recursos Humanos disse que não tinha condições de participar.
Leia a síntese das
conclusões. Violações à liberdade
sindical
O banco apresenta uma série de problemas no Brasil
em sua ação quanto à liberdade sindical. Adota uma prática lesiva à
organização dos trabalhadores, com a demissão de ex-dirigentes
sindicais e acordos em que "compra" a estabilidade dos sindicalistas
para poder rescindir seus contratos de trabalho. Há limitação do
livre acesso dos dirigentes sindicais aos funcionários. Os
entrevistados reclamam também da repressão policial que sofreram por
ocasião de uma greve.
Desrespeito à negociação coletiva
O
Santander desrespeita várias cláusulas da Convenção Coletiva de
Trabalho celebrada com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos). Há
pouca disposição para negociação direta com o sindicato, o que só
ocorre sob pressão. A empresa tende a negligenciar o movimento
sindical como interlocutor legítimo e cria obstáculos para a
obtenção de informações.
Ação social inexpressiva
Embora respeite os direitos da
infância e adolescência, o banco tem ação social inexpressiva no
combate ao trabalho infantil e na promoção dos direitos da criança.
Não participa do Programa Empresa Amiga da Criança, da Fundação
Abrinq. Não manifestou interesse em participar do Projeto Travessia,
iniciativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo para reintegração
de crianças e adolescentes que vivem nas ruas. Entre os
trabalhadores ouvidos, 92% afirmaram desconhecer qualquer iniciativa
social da
empresa.
Desigualdade de gênero e
raça
A pesquisa revela que o Santander reproduz a
desigualdade de gênero e raça existente no mercado de trabalho
brasileiro e, mais especificamente, no setor bancário. Estar dentro
do padrão comum não o isenta de responsabilidade frente aos
problemas. Perguntados se achavam existir algum tipo de
discriminação na empresa, 61% dos trabalhadores responderam que sim.
A forma mais citada foi contra os negros, seguida da discriminação
contra a mulher e lesionados. No caso dos funcionários com LER/DORT,
a prática é recorrente. Todos os lesionados ouvidos disseram ser
discriminados pelo banco. Há indícios de que existem barreiras à
ascensão de mulheres e negros a cargos mais altos. Em seu Código de
Conduta, em momento algum o Santander recomenda a seus funcionários
a prática da igualdade de tratamento, oportunidade, remuneração ou
qualquer outra política que vise reverter práticas
discriminatórias.
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