Vivendo de aposentadoria


             Em 3.773 dos 5.561 municípios brasileiros, o valor das aposentadorias é maior que o total recebido do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), formado por recursos do Imposto de Renda e do IPI. Isso significa que 67,85% das cidades brasileiras recebem menos dinheiro da União do que a soma dos benefícios recebidos da Previdência Social pelos seus habitantes.

O aposentado Valdemar Conceição, 64 anos, mora longe mas vai todos os meses a Monte Alegre de Goiás (a 323 quilômetros de Brasília) para sacar seus R$ 260 na única agência bancária da cidade. Com o dinheiro na mão, ele repete sua rotina mensal e segue para o mercado a poucos passos da agência. O aposentado paga as compras do dia, que incluem arroz, óleo, café, açúcar e fumo e acerta as contas do que comprou fiado. Histórias simples como a de Valdemar se repetem centenas de milhares de vezes e são a base da economia de dois em cada três municípios brasileiros que têm como principal combustível econômico as aposentadorias de seus habitantes.

São as pensões e aposentadorias, por mais baixas que sejam, recebidas pelos idosos dessas cidades que garantem a sobrevivência do comércio local e reforçam por tabela o caixa das prefeituras. No interior do Brasil, os dias de pagamento de benefícios previdenciários são festejados em milhares de municípios por significarem os curtos períodos de riqueza vivenciados a cada mês.

— Moro lá na roça, mas venho sempre aqui no começo do mês para receber meu dinheiro e comprar a comida lá pra casa. Eu pago o que fiquei devendo do mês passado e abro uma nova conta — conta Valdemar.

Em 3.773 dos 5.561 municípios brasileiros, o valor das aposentadorias é maior que o total recebido do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), formado por recursos do Imposto de Renda e do IPI. Isso significa que 67,85% das cidades brasileiras recebem menos dinheiro da União do que a soma dos benefícios recebidos da Previdência Social pelos seus habitantes.

Renda quadruplicada ao passar para inatividade

Em muitas destas cidades, as lojas só aceitam vender a crédito para aposentados e mediante comprovante de aposentadoria. Em certos municípios, a prefeitura chega a proibir o comércio de ambulantes nos dias subseqüentes ao pagamento dos benefícios da Previdência, para evitar a concorrência com os comerciantes formais. Já as farmácias criam promoções especiais e dão descontos maiores para quem recebe o benefício.

Mesmo com toda a expansão da economia rumo ao interior e os avanços da agricultura, que se firmou como uma das grandes forças econômicas do país, essa realidade vem se agravando nos últimos anos. A pesquisa "Previdência Social e a Economia dos Municípios", publicada pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social (Anfip), já mostrava em sua edição de 2002 que 63,7% dos municípios tinham sua economia escorada pelos aposentados. No ano passado, o percentual de cidades nessa situação aumentou em quatro pontos percentuais ou mais de 220 municípios.

— Os benefícios do INSS têm um papel fundamental nas economias locais — afirma o organizador da pesquisa, Álvaro Solón.






183 - 07/11/2004
Celeste Viana


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