Porque os bancários estão em greve - Carta do Sindicato de BH

           

Caro (a) cliente e usuário(a) das agências bancárias,

Em campanha salarial e enfrentando a ganância dos banqueiros, os bancários e bancárias de Belo Horizonte, mais uma vez foram obrigados utilizar o seu último instrumento de luta que é a greve, na tentativa sensibilizar os banqueiros e forçá-los atender as suas reivindicações.

Apesar de o setor bancário ser o que mais lucra no Brasil - somente no ano passado, os 11 maiores bancos do país faturaram aproximadamente R$ 14 bilhões, nem por isso oferece alguma contrapartida social para o país e nem repassa esse ganho para seus funcionários. Além de os bancários serem os principais responsáveis por este lucro astronômico, é uma das categorias que mais trabalha no Brasil sob constante pressão por metas, produtividade, e muitas vezes em péssimas condições de trabalho.

Além disso, o sistema financeiro brasileiro cobra juros inadmissíveis, não oferece crédito suficiente para quem precisa e de tempos em tempos inventa novas tarifa e taxas para abocanhar ainda mais dinheiro de uma população cuja a situação financeira é das piores. Por isso, que nesta campanha salarial os bancários não querem somente conquistar aumento real de salários e melhores condições de trabalho. Exigem também que os banqueiros cumpram a responsabilidade social tão apregoada em suas propagandas e criem condições do país crescer, com menos juros e tarifas e mais crédito. Portanto, mais uma vez, contamos com sua compreensão e com o seu apoio para que juntos possamos transformar essa situação que tanto tem prejudicado o país e o povo brasileiro.

Bancos lucram mais que empresas

Enquanto os bancos lucram bilhões em 2003, empresas de grande porte do setor produtivo não chegaram, nem de perto, à casa dos bilhões de reais. A Sadia, por exemplo, lucrou no ano passado R$ 447 milhões e a Embratel, R$ 223 milhões. Somente o Unibanco, o que menos lucrou entre as cinco instituições financeiras, faturou mais que o dobro da Sadia e quase cinco vezes mais que a Embratel. O comércio também vem sendo atingido pela crise. Em 2003, as vendas do setor caíram 3,68%, no terceiro ano consecutivo de retração. Em 1994, as despesas das empresas com bancos representavam 3,5% das receitas. Em 1998, o número subiu para 14,2% e em 2002 atingiu 35,1%, ano em que as empresas transferiram R$ 68,4 bilhões de suas receitas para os bancos.

Enquanto isso, a "dinheirama" embolsada pelos banqueiros não pára de aumentar.

O Sindicato dos Bancários continuará firme ao lado dos bancários defendendo os seus direitos e ao lado da população denunciando a ganância dos banqueiros e exigindo menos tarifas, juros menores, melhor atendimento, mais segurança e mais responsabilidade social dos bancos.

Lucros dos bancos sobem mais de 1.000%

Tarifas continuam crescendo e clientes sofrem com o mau atendimento

Apesar de o lucro dos dez maiores bancos hoje instalados no país ter subido mais de 1.000% nos últimos dez anos isso não reverteu em melhor atendimento para a população e nem em melhores salários para os bancários

Ao longo desse período, a concessão de crédito despencou, a receita com a cobrança de tarifas cresceu mais de seis vezes, as despesas com pessoal ficaram abaixo da inflação e o número de reclamações ao Banco Central voltou a crescer.

Traduzindo os números: enquanto os ganhos aumentaram em proporção astronômica, impulsionados pela compra de outros bancos, a insatisfação dos clientes se intensificou, pelo menos no caso daqueles que precisam ir às agências. Além disso, a contribuição das grandes instituições financeiras para o crescimento da economia, por meio da concessão de crédito, caiu.

Em abril, o Banco Central registrou o maior número de reclamações de clientes bancários desde agosto de 2001 devido ao pouco número de funcionários para atender ao público.

Lucros, tarifas e mau atendimento

No ano em que o Plano Real foi lançado (julho de 1994), as instituições que hoje formam o grupo dos dez maiores bancos no país lucraram R$ 1,279 bilhão. No ano passado, o ganho conjunto dos dez maiores foi de R$ 14,573 bilhões -crescimento de 1.039%.

Em 1994, os então dez maiores bancos respondiam por 61,9% de todo o mercado bancário brasileiro. Após aquisições de outras instituições e o próprio crescimento dos grandes grupos, a participação de mercado das dez maiores instituições financeiras subiu para 79,7% no ano passado.

Parte do ganho dos bancos se deve ao aumento da receita com a prestação de serviços. Em 1994, os bancos que em 2003 formavam o grupo dos dez maiores obtiveram em conjunto R$ 4,198 bilhões com a cobrança de tarifas. No ano passado, o faturamento com taxas sobre a prestação de serviços bancários foi de R$ 27,697 bilhões -variação de 559,7%.

Na contramão dessa tendência, os gastos com pessoal caíram em termos reais, isto é, subiram menos do que a inflação. De 1994 a 2003, as despesas com a folha de pagamentos cresceram 62,7%. Excluindo o primeiro semestre de 1994 (fase em que ainda persistia a hiperinflação), a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 139% e a registrada pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna), de 191%.

Isso ajuda a explicar porque as duas principais reclamações dos clientes ao BC são o tempo excessivo perdido em filas e o mau atendimento. Com o aumento da automação dos serviços, o número de funcionários é cada vez menor, proporcionalmente, para atender aos clientes nas agências.






143 - 11/10/2004
Celeste Viana


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