Repressão à greve: Justiça e Polícia a serviço dos banqueiros



Na segunda-feira, 27, a exemplo de dias anteriores, a paralisação dos bancários transcorria tranqüilamente no edifício-sede do Banespa, em São Paulo. Diretores do Sindicato dos Bancários de São Paulo e da Associação dos Funcionários do Grupo Santander Banespa (Afubesp) se postavam em frente às várias entradas do prédio e de forma pacífica cumpriam a deliberação da assembléia da categoria: conversar com os colegas para manter a greve e, assim, pressionar a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) a apresentar uma nova proposta de reajuste.
 
Entretanto, por volta das 10 horas da manhã, surgiu um oficial da Justiça, acompanhado de policiais militares, dizendo que vinha cumprir o interdito proibitório que estava em suas mãos. Determinou a retirada das faixas próximas ao banco, informando que tanto elas quanto os integrantes da comissão de esclarecimento da greve teriam que ficar do outro lado da rua.
 
Como o interdito proibitório visa garantir a propriedade do banqueiro, a decisão anunciada significava, na prática, que até a calçada e a via pública em frente ao Santander Banespa também pertencem ao banco, o que é um absurdo. Durante a discussão com os polícias e o oficial de Justiça, ficou claro que a intenção deles era evitar o contato dos dirigentes sindicais e da Afubesp com os funcionários do banco.
 
Diante da postura dos polícias e do representante da Poder Judiciário, os dirigentes e militantes tiveram que recuar para evitar o confronto (diversos grevistas têm sido agredidos e presos pela polícia na porta de outros bancos). Os funcionários, pressionados pelas chefias, ingressaram para trabalhar. Várias pessoas chegaram a se desculpar com seus colegas em greve. "Eu sei que vocês estão certos, mas outros entraram e minha chefe já ligou três vezes mandando eu entrar. Desculpa, mas eu não tenho opção!", declarou uma delas.
 
Nos últimos dias, cenas semelhantes à descrita acima estão acontecendo em muitas cidades brasileiras e têm levado os sindicatos e as demais entidades de representação a questionarem o papel da Justiça e da Polícia Militar no movimento dos trabalhadores.
 
Com raras e honrosas exceções, como ocorreu na cidade de Duque de Caxias - onde uma juíza derrubou o interdito proibitório -, ambas instituições têm se colocado a serviço dos banqueiros com a presteza e a eficiência não observadas quando os pobres buscam a Justiça e a população clama por segurança contra os bandidos.
 
O que tem se observado nessa greve é que não faltam oficiais de Justiça e policiais para garantir os interesses dos banqueiros. O resto da população que se vire!
 
Para o presidente da Afubesp, Aparecido Sério da Silva, o fato dessas duas instituições se colocarem ao lado dos patrões não é culpa dos trabalhadores do Judiciário e da Polícia que cumprem os interditos proibitórios, embora alguns - como os que estiveram em frente ao Banespa - não tenham nenhuma consciência de classe e façam o serviço com indisfarçável prazer. "O problema é que historicamente toda nossa estrutura social foi construída para atender os interesses dos poderosos e isso não muda de uma hora para outra."
 
Na opinião do dirigente o "interdito proibitório jamais poderia ser utilizado para coibir a greve dos bancários, pois o direito de propriedade não está sendo violado pelo movimento". Entretanto, alguns juízes têm concedido liminar aos banqueiros sem ao menos ouvir os argumentos dos sindicatos. "Vamos continuar denunciando essa postura equivocada de parte do Judiciário e a repressão policial contra os trabalhadores", afirma Aparecido Sério.
 
Fonte: Airton Goes - Afubesp  





121 - 29/09/2004
Alfredo Rossi


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