Bancos

           
Poucos negócios no Brasil dão tanto lucro para eles e dor de cabeça para nós quanto os bancos. Com FH ou com Lula, na abundância ou na penúria, eles vão bem. Com inflação, os lucros são astronômicos; com recessão, ainda mais. Dizem que é o negócio mais lucrativo do mundo, com exceção do narcotráfico, que em compensação não dispõe de Proer. Apesar disso, não há quem já não tenha vivido uma experiência desagradável com eles: uma cobrança indevida, um débito automático não autorizado, uma multa por engano, um erro na conta corrente, uma exorbitância. Os erros são sempre contra nós.
 
Tudo bem que a gente pode recorrer ao Procon e à Justiça, como está fazendo agora o deputado Carlos Minc contra a multa que se quer cobrar de quem não pode quitar uma fatura no vencimento por causa dessa greve. Quer dizer: eles não abrem os guichês porque não chegaram a um acordo com seus funcionários, e o cliente, que não tem nada a ver com isso, é quem paga.
 
Não por acaso, estão sempre presentes no ranking de queixas e reclamações. Como já foi mostrado no jornal O Globo, entre as 16 empresas com mais processos nos juizados especiais civeis, oito são instituições financeiras: Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Fininvest, Banerj, Credicard, Banco ABN Amro, Cartão Unibanco. Só o Bradesco e o Itaú, para citar apenas os dois maiores privados, lucraram juntos no ano passado R$ 5 bilhões. Portanto, são vilões não por precisão.
 
"Os bancos e as financeiras precisam ter mais responsabilidade com o consumidor", declarou o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Miguel Pachá, mostrando como as empresas faltosas agem, congestionando o Judiciário: quando perdem as ações, recorrem sem direito a recorrer só para ganhar tempo. "Como os juros judiciais são menores, o que as empresas deixaram de gastar no fim da demanda dá para pagar a condenação". A sua conclusão é que "o consumidor ganha, mas não leva".
 
Eu disse acima que cada um tem uma história. Também tenho a minha, que é até irrelevante diante de tantos casos dramáticos que se vêem nos jornais e na televisão. Mas é engraçada. Estou tendo dificuldade de provar na minha agência bancária que não autorizei por telefone o desconto de R$ 100 por mês durante 30 anos em troca de uma aposentadoria. Como nesses casos o ônus da prova é da vítima, e nem sempre é fácil provar o que não se fez, resolvi usar um argumento que me parece convincente: por mais que eu seja otimista em ralação à minha longevidade, não pensaria em pagar uma aposentadoria para vigorar a partir de quando eu completar 103 anos. Não sei, mas acho que não vou precisar.  

Zuenir Ventura - Correio Popular, de Campinas - 25/09/2004





107 - 25/09/2004
Ariovaldo Cavarzan


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