Por Maria Helena Matarazzo

 

Uma mulher casa com um homem esperando que ele vá mudar, mas em geral ele não muda. Um homem casa com uma mulher esperando que ela não vá mudar, mas em geral ela muda. E por que é tão difícil um homem mudar? Principalmente por causa do machismo.

 

Podemos fazer uma analogia e dizer que o machismo é uma doença, e, ao que parece, uma "doença sexualmente transmissível". O sintoma mais grave do machismo é o autoritarismo e suas causas são míticas: quer dizer, desde um tempo muito remoto os homens se percebem superiores e consideram as mulheres inferiores. Estranha doença essa, que vem se reproduzindo de uma geração para outra.

 

Sabemos que esse estereótipo sexual está sendo superado. Entretanto, baseados em inúmeros estudos sobre os papéis sociais-sexuais nesses últimos anos, se quiséssemos fazer uma caricatura, teríamos, então, os dez mandamentos do machismo:

 

1. Um homem machão nunca deve demonstrar suas emoções, o que significa que ele aprende desde pequeno a suprimir o medo e a dor e jamais pedir ajuda.

 

2. O homem aprende desde cedo a liderar, isto é, a mandar e desmandar. Isso, em contrapartida, significa que todo homem de verdade deve estar sempre pronto para a briga, para se provar, para se testar.

 

3. Se na infância vive comparando seu pênis com os dos amiguinhos, tudo normal. Mas se brincar de boneca, está perdido.

 

4. O homem machão pode demonstrar afeto pela mulher ou pelos filhos pequenos, mas por mais ninguém, especialmente por nenhum outro homem.

 

5. Todo homem de verdade sabe como reforçar seus sentimentos de superioridade. Sua namorada ou sua mulher deve sempre ser um pouco mais baixa do que ele, ter um nível de escolaridade um pouco menor e, se trabalhar fora, ganhar menos dinheiro que ele.

 

6. O homem machão acha que o lugar de mulher é em casa, e o dos homens, na rua. Isso quer dizer que o que os homens podem fazer as mulheres não podem, ou seja, o que é certo para um é errado para o outro.

 

7. Um homem de verdade precisa sempre dominar a situação, o que significa tomar todas as decisões e saber todas as respostas.

 

8. Sua potência precisa ser reconhecida pelos outros; portanto, quanto mais relações sexuais tiver, mais homem será.

 

9. Desde pequeno, o homem macho é educado para depreciar as meninas. Assim, ele cresce acreditando que as mulheres são inferiores, e na idade adulta estabelece uma relação de dono ou protetor com elas.

 

10. O bom macho só faz aquilo que quer, quando quer, como quer e sabe que sempre tem razão, por isso jamais pede desculpas.

 

É verdade que o machismo mata?

 

Fala-se que o machismo mata porque o homem se mata para se provar: na cama, nas estradas, nos bares e para vencer na luta pela sobrevivência. Todos são pressionados para se amoldar, ou seja, quanto mais dor um homem for capaz de suportar, quanto mais álcool for capaz de ingerir, quanto menos pedir ajuda, quanto menos depender dos outros, quanto mais se controlar ou reprimir suas emoções, mais homem será.

 

Essa descrição da realidade masculina não passa de um estereótipo, e estereótipo são meros reflexos da necessidade de conseguir aprovação, por meio de determinadas atitudes ou comportamentos.

 

O homem acreditou no mito que fez dele. O homem acreditou que deveria ser infalível, imbatível. Viver segundo essa imagem passou a ser a única coisa que importava. Enquanto ele conseguisse isso, se sentiria vitorioso contra os demônios internos que o acusavam de não ser homem de verdade.

 

Dentro dessa ótica, o machismo é basicamente um mecanismo de defesa, o que significa que os homens estão usando a maior parte da sua energia para se defender, e não para se expressar.

 

Os homens precisam adquirir uma consciência maior desse condicionamento e recusar a autodestruição como forma de se provar. Toda virtude levada ao extremo se torna um vício.

 

Para quebrar esse círculo vicioso, o homem precisa se perguntar mais, se questionar mais, refletir mais sobre si mesmo. Em vez de ficar frio, duro, insensível, ele precisa rever sua capacidade de expressar medo, tristeza, de sentir prazer, ternura, de se envolver, de estabelecer "contato", quer dizer, de associar ação com emoção.