Apdobanespa
 
 
 

 
 

Diga-me com quem andas

 

     "Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.

     Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

     Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

     Deles não quero resposta, quero meu avesso.

     Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

     Para isso, só sendo louco.

     Louco que senta e espera a chegada da lua cheia.

     Quero-os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

     Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta.

     Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria.

     Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

     Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

     Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

     Pena, não tenho nem de mim mesmo, e risada, só ofereço ao acaso.

     Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

     Não quero amigos adultos, nem chatos.

     Quero-os metade infância e outra metade velhice.

     Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa.

     Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril."

 

Marcos Lara Resende

 
 
Marília - 16/08/2004



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